Jobson, do Botafogo: uma vida em jogo

Foto:Site do Botafogo
Esse rapaz, o Jobson, do Botafogo, é o retrato “cuspido e escarrado” – não encontrei nada mais adequado que esse chulo termo antigo – do jogador habilidoso e problemático. Tem só 22 anos e um talento enorme. Bem trabalhado, poderia, com certeza, chegar à Seleção Brasileira. Potencial dentro das quatro linhas para isso não falta.

A grande questão envolvendo o jovem atacante, de apenas 22 anos, se refere justamente ao comportamento. Ano passado, ser pego no exame antidoping por uso de cocaína quase lhe custou a carreira. A duras penas e com a ajuda do Botafogo, conseguiu o que parecia improvável dentro das circunstâncias: ter a pena revertida para “apenas” seis meses de afastamento dos gramados.

Apostando em sua recuperação e no grande potencial do atleta, o Botafogo consegue contratá-lo novamente, desta vez em definitivo, estabelecendo longo contrato. No dia da apresentação, falácia e promessa de recuperação, juras de amor ao clube e beijos no escudo da estrela solitária não faltaram. Sobraram, até.

Jobson voltou fora de forma, evidentemente. Com um bom trabalho físico, voou. Foi aos poucos, timidamente. Assim que as pernas obedeciam à imaginação, seu dom aflorou. Fez gols, driblou, se movimentou e encantou dirigentes, comissão técnica e torcedores. Bastou ter uma contusão, ficar fora do time, para a índole prevalecer.

Nem um acompanhante, espécie de babá, que o clube contratou para acompanhá-lo em todos os lugares e até dormir em sua casa, foi suficiente para freá-lo. O intensivo tratamento com terapeutas, os exames constantes e toda a confiança depositada nele, também não. Voltou a “aprontar”. Houve uma “blindagem” do clube, evitando, ao máximo, expor novamente a “jóia”.

Claro que o Botafogo tinha e tem interesses comerciais e mercadológicos em Jobson. É natural, no mundo da bola. Porém, o que chamou a atenção, neste caso, foi a ousadia em apostar novamente nele apesar de nítida a dimensão da encrenca que isso poderia trazer. No tão acirrado, frio e calculista mercado do futebol, houve, sim, um sopro de afago e emotividade.

Talvez, provavelmente, pela própria experiência pessoal do presidente Maurício Assunção, novato dirigente e “inocente” ao ponto de revelar ter tido caso semelhante na família. Fato é que a mão foi estendida a quem precisava. E Jobson não contava com tantos braços esticados assim a seu dispor nos momentos mais difíceis. Ao contrário!

O comportamento irreverente, a juventude e, principalmente, a formação como homem (falta dela), convergiram num somatório que resultou em ingratidão. Jobson foi visto em boates, não resistiu a provocações de torcedores rivais, faltou a treinos... Desiludiu. Novato, ainda se deslumbra com o interesse de outros clubes em sua contratação. Provavelmente deixará o Botafogo por um belo contrato.

O alvinegro vai lucrar financeiramente. Será ressarcido monetariamente pelo investimento. Moralmente, não. Sobrou, de toda essa triste história, a constatação de que Jobson, na essência, infelizmente não mudou. Não aprendeu com a experiência. Mas valeu a pena perceber que em um ambiente de disputa intensa e marketing excessivo, ainda há lugar para um clube de futebol demonstrar zelo pelo ser humano. Apesar dos pesares, torço por Jobson. É uma vida em jogo.

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