Ronaldo: goleador e não craque

Vi e li muita coisa sobre o tal gol de Ronaldo, ontem. Concordo com algumas colocações, faço meio-termo em outras e descarto uma parte. Vejo Ronaldo como artista. Artista da bola, que tem na área seu palco. Na bola estufando a rede, sua recompensa pessoal. No grito da torcida, o aplauso e reconhecimento público. Em minha idade mediana (38 anos), assisti gente melhor que Ronaldo no ofício a que se propõe – Reinaldo e Romário, principalmente. Identifiquei alguns craques em campo com o olhar ingênuo de espectador, especialmente Zico, Sócrates e Falcão, para a gente fincar o pé na análise de brasileiros. Os craques, acredito eu, ocupam patamar superior ao lugar assegurado a grandes jogadores – caso esse de Ronaldo. Talvez ele tenha surgido em um momento de carência da idolatria esportiva brasileira. Isso pode explicar parte de seu sucesso. A outra parte, claro, se deve a seu esforço próprio. Como exemplo de superação, beira o sensacional. E essa fórmula sucesso-profissional + exemplo de vida surge como uma quase infalível fórmula para se criar novos ídolos. Sobre as questões amorosas e boêmias, gênios também as tiveram – vide Garrincha. Interfere um pouco no âmbito do atleta, mas diz, mesmo, quase nada. Porque se trata, para mim, de uma questão meramente ligada à personalidade. “Gol-Ressurreição”, “Gol-da-volta”, “Gol-tô-aí”, etc... Tudo isso não passa, no fundo, de um gol de Ronaldo. Mais um, entre muitos outros. E, isso, ele sabe fazer muito bem. Não à toa, é o maior artilheiro da história das Copas do Mundo. Ronaldo tem consciência do grande goleador que existe nele. E, especialmente, da importância de seus gols para a imprensa mundial. Na ausência ou aposentadoria de gente mais expressiva, aí vai ele se consolidando como referência de uma geração. Honrarias a Ronaldo parecem pertinentes. Fanatismo sem limites, jamais.